Vivemos momentos únicos que vão ficar na história de Portugal.
Momentos que as nossas famílias vão recordar pelos piores motivos.
Em apenas um ano, destruíram-se 40 anos de luta por um Portugal menos pobre, com melhores condições de trabalho e de vida.
Foram 40 anos onde errámos muito, onde se cometeram muito excessos e houve muita injustiça. Em parte porque abdicámos de participar, de ser cidadãos. Foi o nosso distanciamento que deu espaço para o momento que hoje vivemos, em que apenas um ano tudo o que era positivo se perdeu em nome de outros. Os erros esses continuam.
Em Portugal estão a morrer pessoas.
São pessoas que morrem porque não tem dinheiro para medicamentos, porque não tem dinheiro para uma alimentação digna. São velhos e crianças. Somos todos nós. São os hospitais que tem menos condições, são as escolas que tem pior ensino, são famílias que não tem direito a viver, a pensar num futuro. Na melhor das hipóteses, estamos a ser privados de um futuro, de uma vida.
Passamos os dias preocupados em manter a família à tona. Dia após dia, semana após semana. Não há tempo para pensar. Não há tempo para perceber o que se passa, para desconstruir as notícias, para analisar. Ficamos apenas com o soundbite, com o cabeçalho. Não há pensamento, não há esperança.
Estamos a assistir a um retrocesso civilizacional brutal.
Estamos em 2012. Devíamos estar a discutir um sistema de saúde preventivo, melhores escolas, melhores transportes. Devíamos estar a discutir menos horas de trabalho e em vez disso temos que nos contentar em ainda ter trabalho. Neste momento estamos a lutar como podemos para manter apenas o pouco que temos.
Estamos em 2012!
Quando os tiros vem de todo o lado, a nossa primeira reacção é fingirmos que somos muito pequenos, quase invisíveis e esperar que no final ainda estejamos vivos. Já nem importa se estamos inteiros ou não.
De parte de quem nos está a atacar é uma estratégia brilhante. Todos os dias ouvimos os tiros, e quando percebemos que essa bala não nos atingiu, ficamos felizes. Temos direito a mais um fôlego. Nem pensamos em contra atacar.
Podia ser pior. Podia.
Estamos muito longe de outras catástrofes que assistimos na Europa e no Mundo. Estamos num nível diferente, mas estamos num nível, estamos num qualquer patamar de destruição. O nosso só não é tão grave porque os outros foram demasiado graves.
Noutros tempos vimos povos, vimos a Europa, vimos o mundo a olhar para o lado e só mais tarde, com toda a distância é que nos apercebemos do que realmente se passou e da gravidade da situação. Mas no momento certo nós olhámos para o lado e esperámos que os tiros não fossem para nós.
Será que daqui a uns anos, com todo o panorama, vamos dizer que devíamos ter feito algo mais, devíamos ter acordado mais cedo?
Precisamos de uma sociedade mais atenta, mais transparente, mais participativa e mais interventiva. Mas isso num presente/futuro.
Hoje temos que fazer algo mais, mais imediato.
Não sei o quê, mas estamos a ficar sem tempo.
Beijinhos e abraços.
“A Espanha andou a criar uns leitõezinhos que já são muito apetitosos: a Telefónica, a Repsol, a Iberdrola, etc. No nosso caso, a Galp, por exemplo. Penso que esta crise é aquela em que alguém vai dizer: meus caros amigos, é altura de os leitões irem para o mercado para serem comprados por quem tiver dinheiro para comprar. O pior que pode acontecer nesta crise é haver uma transferência maciça da propriedade no Sul. É os chineses comprarem tudo o que lhes interessa na Grécia – o Pireu, os armadores…”
José Manuel Félix Ribeiro no Jornal Público em Agosto de 2010.
http://inovacaoeinclusao.blogspot.pt/2010/08/europa-vai-ser-comprada-pela-china-e.html